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sexta-feira, abril 26, 2002
Carta pra alguém bem perto

Não, eu não gosto dessa eu. Eu prefiro a outra eu, a do ano passado. A que eu não sabia que era, mas era (ou ainda sou?). A outra é mais feliz, mais madura, mais desencanada, mais segura e mais independente. Onde será que ela/eu foi, será que tá sufocadinha aqui dentro?
Ei, psiu, volta, por favor, preciso de ti e você sabe disso. Sei que você ainda está aqui, dentro de mim, em algum lugar. Só tá com vergonha de tudo que eu tenho feito, só isso. Tá com vergonha das pessoas que tenho magoado, de todas as vezes que desrespeitei os meus limites e o meu corpo e de todos os sapos que tenho engolido. Mas só você pode me ensinar a agir diferente, ninguém mais. Eu não sei me virar sozinha - sem você eu só faço merda... Se você voltar eu prometo que não esqueço mais os meus sonhos, e que boto uma data neles e realizo custe o que custar. Mas você tem que voltar hoje mesmo, agora, já já, pois não agüento mais um minuto sem você, tô à beira de uma ataque de nervos.
Preciso de você me lembrando que eu tenho que ouvir Belle&Sebastian pelo menos uma vez por semana, que tenho que tomar sorvete de doce de leite com cobertura de caramelo todo sábado á tarde, que tenho que dormir com cheirinho de incenso de camomila toda noite, que tenho que ir no cinema e ouvir um novo CD pelo menos uma vez por mês. Preciso que você espante todos os meus pesadelos e me faça acordar às gargalhadas ou com tesão, nunca deprimida ou com saudades ou com vontade de ser o que eu não sou ou viver o que eu não vivi. Enfim, preciso que você cuide de mim, todo dia, toda noite, sempre. Caso contrário vou enlouquecer, e você sabe disso. (Se eu já não tiver enlouquecido, escrevendo cartas para mim mesma...)

Enviado por Claudia Zeal às 10:42 AM | link Comentários: